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Witbier de jabuticaba

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Domingo desses fui num sítio de um amigo para um churrasco e ele nos mostrou seu lindo pomar com quatorze pés de jabuticaba. Confesso nunca tinha visto um. Na verdade, nunca tinha visto uma árvore onde o fruto nasce no meio do caule. Muito estranho. Parece até que a árvore está com catapora! O churrasco rolou tranquilo e saímos de lá com seis quilos de jabuticaba, colhidas diretamente do pé.

Aí, a pergunta que não queria calar era: O que fazer com isso?

O Professor Pardal aqui achou de fazer uma witbier com ela, mas não estava muito seguro. Não iria arriscar 10 Kg de malte numa experiência que poderia dar errado e portanto achei de fazer apenas vinte litrinhos. A receita eu coloquei no final do artigo.

Como de costume, peguei um starter e coloquei no erlenmeyer de 2 litros pra acordar a T58 que eu tinha da última witbier, a witbier dos namorados.

Qual não foi a minha surpresa em saber que, depois de um dia inteiro, o starter não startou! Nada aconteceu! Pela segunda vez a T58 se recusou a acordar. Acho que ela não gosta deste negócio de confinamento. Conclusão: comprei um pacotinho novo.

Confiante de que tudo correria bem, iniciei a mostura e após regular o pH, fui tratar de outras atividades, somente retornando a cozinha uns quinze minutos depois. Foi nesta hora que notei que o fogo ainda estava muito alto e temperatura marcando perto de 50 graus. Ao parar o processo, notei que o termômetro do Smartmash não estava em contato com o líquido. Provavelmente quando eu regulei o pH, ele acabou ficando alto. Ao colocar o termômetro no local, a temperatura marcava 75º. Vale lembrar que é uma panela de sessenta litros que estava sendo usada com pouco mais de vinte na mostura.

Desespero!!! Posso ter inativado as enzimas e estragado tudo. Como esfriar?

Nesta hora, peguei boa parte da água de lavagem que ainda estava fria e joguei na panela. Para garantir um pouco mais de enzimas, coloquei mais um quilo de malte pilsen. Consegui trazer a temperatura para os desejáveis 63º, fiz o resto da mostura e o que deu de lavagem. Para a fervura eu separei dois quilos de jabuticabas com casca e tudo. Coloquei dentro de uma malha ortopédica para funcionar de hopbag e tasquei tudo na panela com 30 minutos de fervura. Incluí também vinte gramas de gengibre moído para substituir o coentro tradicional.

Fui apertando a jabuticaba pra escorrer o líquido mas acho que exagerei na dose. O mosto ficou um pouco rosa, com cara de iogurte de morango. Parecia qualquer coisa, menos cerveja.
Como estava com o fermentador ocupado com a pilsen do Mota, coloquei a cerveja pra fermentar num baldinho de 22 litros mesmo e inoculei com a T58 que tinha comprado. Tudo de uma vez só, sem sequer fazer hidratação. O balde ficou no canto da cervejaria mesmo. Não havia o que fazer com ele.

Mesmo com algumas doses de lowfoam, tive algo que há muito não me ocorria. Blowoff! Vazou um pouquinho pelo airlock, mas nada de muito grave. Vale notar que eu enchi muuuuuito o balde, tá. Se sobrou 3 cm de headspace, foi muito. Fermentado ao ar livre, quatro dias depois atingiu 1.016 e daí não caiu mais. No sétimo dia foi para o freezer, sem trocar de balde.

Hora da verdade. Vamos provar... Suspense...

Sinceridade? Não gostei.

Nunca tinha comido jabuticaba. Nem sei dizer se ficou com o gosto dela mas ficou um pouco ácida. Está mais pra uma souer que para uma witbier. Como ela iniciou em 1.052, uma densidade maior pela introdução do quilo de malte a mais, acabou com uma FG acima do esperado. Deu 1.016, quando o esperado era 1.012. Pode ser também que a presença de açúcares da jabuticaba não tenha agradado muito à T58. Vai que ela é chique e não curte esta fruta brasileira. Vai entender...

Opinião dos clientes:
A minha mulher, que não gosta de cerveja provou e, pasmem, gostou! Meu cunhado e a mulher dele, que adoram filar a minha cerveja, tomaram um copinho, elogiaram, mas não pediram outro. Acho que eles foram educados.

Resultado: Não pretendo repetir a experiência e para curar esta ressaca desta, já estou com o material pra fazer a minha tradicional witbier com limão siciliano e semente de coentro moída.
A propósito: Mesmo depois de distribuir algumas garrafas entre amigos, ainda tenho algumas disponíveis. Então se você quiser experimentar, é só vir aqui buscar, ok?

Um abraço e saúde.